quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Jongo ganha novo fôlego no Rio de Janeiro


Por :Leonel Martins

Uma das mais ricas manifestações da cultura afro-brasileira, originária dos batuques e danças de roda trazidos por escravos do antigo reino do Congo, e pelos negros da nação Bantu de Angola, o jongo está ganhando um novo fôlego no Rio de Janeiro. Por quase cem anos, esta dança ficou restrita a algumas comunidades da região do Vale do Paraíba (que compreende os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais).

Aos poucos veio ganhando terreno e, hoje, é praticada em vários pontos da cidade do Rio de Janeiro, atraindo não só pessoas das comunidades, como visitantes, enfim, todos aqueles que têm vontade de conhecê-la. Apresentações em escolas, universidades, teatros e em bairros como Santa Tereza e a Lapa, já são comuns na cidade. A grande referência dessa manifestação é a comunidade da Serrinha, em Madureira.

De acordo com professora Luiza Marmello, professora de canto da escola Jongo da Serrinha, localizada na comunidade, a dança praticada ali ainda preserva muitas características de tempos atrás, porém, algumas mudanças foram necessárias para que este tesouro cultural não fosse esquecido. “O jongo precisava ser transmitido para as gerações futuras desde cedo, e não apenas para os adultos como antigamente, quando só os mais velhos podiam dançar”, explica. “Com a morte dos jongueiros idosos, começou-se a dar oportunidades aos jovens e crianças para participar da dança”.

Esse trabalho de divulgação para as novas gerações contou com o empenho do falecido mestre Darcy do Jongo, que, por quase 42 anos, realizou apresentações em diferentes regiões do Brasil e no exterior. “Os resultados estão surtindo efeito agora”, analisa Luiza, para quem a raiz do jongo está no morro da Serrinha. “Damos aulas para crianças e jovens não só da nossa comunidade, mas também de outras localidades. Servimos de modelo para as comunidades de Paraty, Valença, Angra do Reis e Vassouras”, conta ela.

O jongo é considerado oficialmente patrimônio imaterial da cultura brasileira, pelo Ministério da Cultura.

Conheça a história do jongo
O jongo é uma dança comunitária de origem rural que data da época da escravidão e foi recriada nas primeiras favelas do Rio de Janeiro.Ao longo de vários anos vem se registrando na cidade do Rio de Janeiro, o ressurgimento da dança, trazida por escravos oriundo deste continente e que é preservada até os dias atuais por descendentes de africanos. O jongo é praticado, hoje, nas periferias urbanas e em algumas comunidades rurais e, principalmente, durante as festas dos santos católicos, de divindades afro-brasileira, no dia de comemoração da data escravatura.

No passado a dança só era praticada por descendentes de africanos, mas hoje em dia tem se registrado a mistura ou entrada de brancos praticando esse tipo de dança. Em meio às profissões de fé na força dos ancestrais deixados na África e à crônica da vida dura na lavoura, os africanos cifraram palavras em português e em dialeto para burlar os ouvidos dos feitores e maldizer a opressão, falar de liberdade e combinar fugas.

Os Jongueiros
São todos os praticantes do jongo e se reúnem todos os anos para discutir os rumo desta manifestação cultural existente no país de maneira a preservá-la.Os jongueiros aprenderam a trocar o sentido das palavras, criando um novo vocabulário para se comunicarem entre si e fugirem do castigo dos senhores que não entendiam esta linguagem cifrada, enigmática e metafórica.

A dança
A dança do Jongo é de intenção religiosa-fetichista, podendo ser considerada afro-brasileira. É uma coreografia de roda, com movimentos circulares no sentido contrário aos dos ponteiros do relógio. Dança-se ao som de dois tambores: um grande “tambu”, outro pequeno, “candongueiro”; de uma “puíta” ou “cuíca”. Usam também “guaiás” (chocalhos).Sozinhos ou em pares os praticantes vão ao centro da roda, dançam até serem substituídos por outros jongueiros.

Muitas vezes nota-se, neste momento da substituição, o elemento coreográfico da umbigada. Dança-se conforme se sabe. Uns dançam rodando, outros pulando ou arrastando os pés.Uns dançam devagar, outros bem rápido. Às vezes os passos são como os das coreografias observadas nas rodas de santos da umbanda. São várias as maneiras de se dançar o jongo.

Músicas
A música tematiza situações do cotidiano, cantadas de improviso em relação com pontos tradicionais que são respondidos em coro pelos participantes, numa combinação empolgante de batuque, canto, dança, religiosidade e brincadeira.As letras falam da faina nos cafezais, das agruras do cativeiro, da violência dos feitores e dos mistérios da natureza, povoada por jaguatiricas, tatus, saracuras, inhambus, jacus e lambaris – fauna nativa a que se juntam os bois e cavalos da fazenda. Ícones católicos que ganharam novos significados com o sincretismo também freqüentam os pontos, como são Benedito, santo Antônio, Nossa Senhora e o Menino Jesus.

Terreiros
Os terreiros são os locais onde são praticadas as danças do jongo.Os jongueiros há muito que deixaram de ser nas comunidades e, hoje em dia os grupos de dança do jongo se apresentam nas escolas, universidades, quilombos, festas oficiais, aniversários da cidade, em algumas comunidades e na época do carnaval.

Instrumentos musicais
Nesta dança são utilizados tambores, feitos de um único tronco de árvore escavado, são chamados de caxambu. O de som mais grave é também chamado de tambu, e o de som mais agudo, candongueiro.
Para mais informações clique em: http://www.jongodaserrinha.org.br/